quinta-feira, janeiro 18, 2007

Morre lentamente


Hoje um poema que há muito não recordava e sempre vale a pena recordar.
Ao lê-lo calam-se os meus queixumes, ergue-se a vontade, apercebo-me do sol e quero ganhar asas para voar sobre o mundo.

Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música,
quem não encontra graça em si mesmo.
Morre lentamente quem destrói o seu amor-próprio, quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito,
repetindo todos os dias os mesmos trajectos, quem não muda de marca,
não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru.
Morre lentamente quem evita uma paixão,
quem prefere o negro sobre o branco e os pontos sobre os "is"
em detrimento de um redemoinho de emoções
justamente as que resgatam o brilho dos olhos, sorrisos dos bocejos,
corações aos tropeços e sentimentos.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz,
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,
quem não se permite pelo menos uma vez na vida fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente, quem passa os dias queixando-se da sua má sorte
ou da chuva incessante.
Morre lentamente, quem abandona um projecto antes de iniciá-lo,
não pergunta sobre um assunto que desconhece
ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.
Morre lentamente...

Pablo Neruda

3 comentários:

Arpedro disse...

Morre lentamente quem não alimenta as amizades; quem se contenta em trocar sorrisos breves e ocasionais com alguns conhecidos.
Morre lentamente quem não se arrisca a trocar beijos e abraços com os amigos, mesmo que sejam virtuais como este que agora te dou.

sandra disse...

Morre lentamente quem não dá importância a pequenos gestos, como este teu agora, que simplesmente fez o meu dia.
Bjo virtual para ti também, amiga!

Elipse disse...

já tens asas. VOA! aqui podes fazê-lo. Boa sorte para aqui e para a vida.