quarta-feira, setembro 27, 2006

Mudanças


Se às vezes é certeza em pedra,
Outras o é também, mas em pó.
O monte que ontem petrificara, hoje é uma nuvem só.

Nem sempre os rios confluem
Muitas vezes se bifurcam
Verdade é que como a Fénix, novos estados daí resultam.

E dá-se o metamorfosear das coisas
Belas voltas por entre os ares
Daquilo que se mostrou ser e lá parece não mais voltares.

segunda-feira, setembro 25, 2006

O que lhe diz ele ao ouvido?


Viram o «Lost in Translation»? Estão lembrados desta cena (foto)? É uma das cenas finais do filme. E deixou-me intrigada. Diria mesmo, furiosa.
Achei o filme fantástico, subtil, com muitas mensagens nos silêncios, o que aprecio. Mas, nesta cena em particular, apoderou-se de mim uma insatisfação por não saber, concretamente, o que Bob diz a Charlotte. O que lhe diz ele ao ouvido? Promessa de um encontro futuro? Declaração de amor adiada? Elogio aos escassos dias em partilha? O que terá sido?! Bah! Isto da resposta que não chega, do final que não se espera, do enigma derradeiro, são tudo características que podem até conferir valor artístico à obra, e que até me agradam, como já disse, mas deixam-me em suspensão e há momentos em que não suporto! Este foi um deles.
Não me basta a minha verdade. Quero a da (cruel) realizadora! Se é que ela a tem...

Escultura de Ron Mueck



Desta feita uma imagem, a de uma escultura. Impressionante. Mais ainda porque supera a escala humana e, todavia, não deixa de exibir traços de um realismo estarrecedor.
Sintam a ironia do olhar, a consciência de que é observado e de que choca os outros. Sustenta uma posição pseudo-introvertida que se esclarece pela expressão ousada do rosto.
Ou então, está meramente em reflexão. Ou será um simples descanso de fim de tarde.
A arte tem destas coisas. Senhora de múltiplas leituras. E não é uma questão subjectiva, porque um só sujeito olha para ela, em diferentes momentos de forma distinta. Não concordam?

segunda-feira, setembro 18, 2006

MISS DAISY

Fui eu, o Mais-Que-Tudo e uma amiga, também uma Mais-Que- Amiga.

Há muito que ansiava ver uma peça com a Grande Senhora no elenco. Já a havia visto noutros trabalhos em televisão, inclusivé como protagonista de uma peça passada no canal 2 que muito contribuiu para o seu reconhecimento, ou do seu trabalho: Mãe Coragem e os seus Filhos, de Bertolt Brecht. Por senhoras assim não se pode sentir senão admiração. De senhoras assim chegam pilhas de inspiração!

Fui vê-la ao Auditório Municipal com seu nome_ Eunice Muñoz_ em Oeiras. Esperava (não sei bem porquê) uma peça densa, com grande carga dramática, daqueles textos que nos dissecam e nos levam a casa embrenhados em reflexões e outros pensamentos analíticos. Mas, claro está, tal não aconteceu, apesar de oferecer algum espaço para a reflexão pelos flagelos sociais que também aborda. Mas foi a riqueza da protagonista e a maturação do seu relacionamento com o "motorista" que me deixaram rendida.

Juntamente com outros dois bons actores _ Guilherme Filipe e Thiago Justino (este último foi uma agradável surpresa!)_ Eunice encheu o palco de humor e graciosidade. Foi assim durante quase todo o espectáculo. Quase, porque momentos se reservaram a emoções mais intensas. Claro que esta sentimentalóide não se coibiu em verter uma lágrimazita. Desgraça.

Em suma, adorei a Miss Daisy! E recomendo vivamente!

Aqui fica a minha sugestão, completada por parte de um artigo da SIC online (abaixo).


O FILME com Morgan Freeman e Jessica Tandy

"Miss Daisy", numa versão do poeta António Barahona, marca o regresso de Eunice Muñoz ao teatro, numa peça que, pela primeira vez, vai ser apresentada em Portugal.
A peça de Alfred Uhry, que recebeu o Prémio Pulitzer e que serviu de base ao filme “Driving Miss Daisy” (1989), vai estar em cena de 30 de Junho a 15 de Julho, no Auditório Muni
cipal Eunice Muñoz, em Oeiras. Eunice Muñoz, a protagonista desta peça de teatro, far-se-á acompanhar por um elenco de luxo, constituído pelos actores Guilherme Filipe e Thiago Justino, numa peça encenada por Celso Cleto e com cenários e figurinos de José Costa Reis.


« Passada em meados do Século XX, esta peça conta a história da vivência de uma senhora judia e do seu motorista, ao longo dos vinte e cinco anos em que decorre a acção. O enredo dá destaque também ao gerar de laços profundos de amizade e compreensão entre ambos e à tentativa mútua de adaptação e compreensão, em termos pessoais e sociais, a um mundo em mutação. Esta história faz ainda uma análise subtil das tensões raciais e dos preconceitos vividos naquela época. »

"Miss Daisy" sobe ao palco de quarta-feira a sábado, às 21h30 e aos domingos, às 17h00

Eunice Muñoz como Miss Daisy


sábado, setembro 16, 2006

Parabéns!


9h15m... oiço a melodia do inolvidável Verão Azul... e não estou a sonhar...sim, é de facto o telemóvel.
Levanto-me num qualquer estado entre a dormência e o espertar, procuro vacilante o som que gradualmente aumenta e encontro-o. Atendo a chamada e surpreende-me uma voz. A menos esperada àquela hora. Sim, porque a força dos genes dita que ao fim-de-semana impera a interdição ao toque da alvorada!
E eis que chega a mensagem que trazia a explicação de tão inesperado acontecimento: haviam sido publicados os ansiados resultados. Aquele que eu vira nascer há dezo... bem não interessa estes pormenores do tempo que só me envelhecem... retomando, aquele que eu vira nascer tem agora a porta aberta para mais uma importante fase da sua vida.
Aguardam-te, estou certa, anos de muito entusiasmo e sede de conhecimento (que em ti não escasseiam), anos que mais tarde perceberás serem fulcrais naquilo que constituirá o teu ser, a tua percepção do mundo e a noção do que este mundo espera de ti. Mais importante ainda, daquilo que tu podes fazer por este mundo.
Seja o que for que venhas a conseguir, estarei lá, como um dia te disse, para te aplaudir!

Um beijo cheio de amor e ternura
(que lamechice...) :)

Da Timadrinha e Adriano

terça-feira, setembro 12, 2006

Sinto chegar
Como brisa que bate nas costas
O som que de ti ecoa
E agora em meu ouvido soa
Aqui, neste regaço que tanto gostas

Inspiram-me as tuas melodias
Ao ritmo das notas que tu crias
Brotam sons das cordas que tocas
Com teus dedos
Como palavras sentidas por mim ditas
Em jeito de segredos

Vem
Qual riacho que flui à conquista do mar
A tua música, amor, aos meus ouvidos
Para me inspirar

A ti


«Conhecer alguém aqui e ali que pensa e sente como nós, e que embora distante, está perto em espírito, eis o que faz da Terra um jardim habitado.»
(Goethe)

Olho-te e percebo a oculta tristeza
Olhas-me e encontras um espelho


Urge disfarçar, com destreza,
(Aquela que sempre revelaste)
O mergulho na incerteza
Que em breves momentos mostraste
E eu percebi
Porque te conheço
E a ti não esqueço
Nem tudo o que comigo experienciaste

Quero que saibas da culpa no meu imo
Da sensação de que não estimo
A tua entrega e disponibilidade
A tua genuína amizade

Quero que saibas ainda assim
Que essa culpa não me é clara
Nasce desta sensação rara
Do misto de insegurança e ânsia
Que dá fruto a esta distância
Que muito quero encurtar
Pois sei que muito há para dar

Tudo aquilo que foi o nosso mundo
E que parece dissipado num segundo
Não pode ter desaparecido
Estará somente em parte incerta
Num qualquer abrigo de porta aberta

O que de ti sei
E por ti sinto
Ficou
E está guardado na caixa dos pertences preciosos
Aos quais me agarro nos instantes penosos


Quero ser capaz do passo
No reencontro do teu quente e fraternal abraço
Ou então, pega nas tuas asas e voa
E pousa aqui, no meu peito, para que não doa.

Desvio de Caminho


Nisto de se ser humano muito há de inexplicável... o domínio das emoções e reacções nem sempre acontece.
Respondam-me: o que explica a ruptura de fortes afinidades sem razão aparente e repentinamente, num sopro? O que determina o angustiante desgaste de elos a priori inquebráveis e os transforma em ligações frágeis e singelas não havendo ao que apontar como causa? Que força transcendente determina que o que hoje é conforto amanhã seja inquietação, e sempre sem encontrar explicação?
Não falamos de desentendimentos, conflitos, iras ou outro agravo. Falamos de desvio de um caminho a dois, ou a três, ou a quatro, em plena unidade e sintonia que, de repente e tristemente, se ramifica, perde a coesão e a cumplicidade e nos leva a um destino onde impera a sensação de perda.
E é intensa a angústia, é doloroso o esvanecer dos laços que não se querem perder.
E nos momentos em que os caminhos parecem voltar a unir-se, ah, é tão imensa a vontade de os eternizar! Mas, sem qualquer aviso, logo parece que outros momentos nos conduzem a diferentes moradas. E porquê? Não sei. Respondam-me.
Até lá, ainda acredito e desejo que venhamos a percorrer o mesmo trilho, juntos, com a harmonia e o prazer que outrora sentimos, com a sensação de que cada minuto ou hora é pouco para partilhar o que somos e temos, e a certeza de que, num fugaz olhar, seremos capazes de transmitir ou sentir o que cada um de nós sente ou pensa.